Professoras Apaixonadas

PROFESSORAS APAIXONADAS

As professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidas pela ideia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonadas, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupadas com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
Apaixonar-se sai caro!
As professoras apaixonadas, com o usem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonadas, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
As professoras apaixonadas muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão.
Mas a professora apaixonada não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente. Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração. Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
As professoras apaixonadas querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos das professoras apaixonadas brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ela mesmo, professora, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.

Gabriel Perissé (adaptado)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Chamadinhas



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